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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O FESTIVAL INDÍGENA "Vyty"

Projeto de Pesquisa coordenado pelo professor Wilson e desenvolvido pelos alunos Herrison 3º, Claudia Coutinho 2º, Keyla Oliveria, Fernando 2º. Trabalho este, selecionado entre os mais de 2.800 projetos inscritos no portal http://www.educarede.org.br/ como um dos dez melhores da "comunidade minha terra" edição 2008.

A equipe Caçadores de Aventuras, formada pelo professor mas os alunos acima, passou quatro dias junto com os índos da etnia Gavião, onde observaram os costumes e rituais festivos daquele povo. O resultado da pesquisa foi divulgado na reportagem abaixo e em um vídeo (veja resumo na barra de vídeos), além de fotos incríveis.

De 10 a 14 de outubro aconteceu na aldeia Riachinho, situada a 70 Km de Imperatriz e 19 da sede do município de Amarante-MA, uma das etapas da festa do Vyty (lê-se Vôtã). Esta festa leva meses de preparação e consiste em uma série de rituais tais como pintura corporal, danças e cantorias. Segundo o cacique Joel, responsavel pelo evento, a festa do Vyty exigiu muito trabalho para ser realizada, foram meses de preparativos, para que não faltasse nada durante os festejos. Pela tradição, a casa (família) responsável pela realização do evento é quem tem a responsabilidade de providencia abrigo e comida para os convidados. O cacique Joel, lamentou-se que antes o anfitrião passava meses caçando para acumular comida, mas hoje, com a falta de caça na reserva, ele teve que comprar dois bois para servir aos convidados, o que perde um pouco da graça da festa.

Além de abrigo e alimentos, o responsável pela festa também deve providenciar para que os rituais inerentes a esta festa sejam todos realizados. Durante os quatro dias que passamos na aldeia não houve um que não tivesse um acontecimento: ritual de pintura corporal, cantoria e corrida da tora, ornamentação e desfile do esteirão, cantoria e dança em redor da fogueira, caçada dos gaviões etc.

Fazem parte das festividades do Vyty os seguintes rituais :
A "Casa grande": Para abrigar os convidados é construído, com palhas de babaçu, um barracão de aproximadamente 8mx20m, com apenas um quarto onde ficarão os gaviões capturados. É também neste barracão que é preparada a comida (concrêm) que será distribuída para os convidados.

A Caçada e Captura do Gavião: Consiste em eleger (sem o conhecimento dos eleitos) três jovens que serão capturados pelos mais velhos e colocados em um quarto da casa grande feito exclusivamente para este fim. Durante três meses estes rapazes não poderão se ausentar nem andar normalmente pela aldeia. Ficam numa espécie de regime de prisão semi-aberto, sendo que poderão receber visitas íntimas (menos das esposas!!).
O gavião é obrigado a se submeter às ordens das mulheres da aldeia que pedem que aqueles façam companhia na mata, pesquem, cassem ou colham frutas para elas.
Como ninguém, além dos anciões, sabem quem são os escolhidos para gavião, todos os homens jovens ficam apreensivos. Quando desconfiam que são os eleitos, alguns se escondem e é organizada uma busca (caçada) nos arredores da aldeia para encontrar e capturar o fujão.

Berubu, Paparuet e Muquia: Em dias normais, a comida é feita em caldeirões colocados em cima de três pedras (trempe). Mas nas solenidades costuma-se preparar pratos mais elaborados tais como o “paparute”, o frango na “muquia” ou o “berubu”. Todos de preparo parecido: para fazer o "paparute" e o "berubu" é necessário que se rale a mandioca e tire a massa. Depois pega-se uma quantidade de carne, que depende das possibilidades de quem promove a festa (nessa festa foram dois bois) cobre com a massa da mandioca, enrola em palha de banana formando uma espécie de pamonha gigante. Dopois coloca para assar em um forno improvisado dentro de um buraco que foi previamente aquecido com a queima de madeira. Segundo a índia Noemi, o processo de enrolar a carne e colocar em uma espécie de forno feito num buraco é chamado de “muquia”. Carne assada sem massa de mandioca é carne na "moquia", com massa é “paparute” ou “berubu”. A diferença entre paparute berubu não fica bem clara parecendo que é apenas a quantidade de carne se tem muita é “berubu” se tem pouca é “paparute”.

Pintura Corporal: Todas as atividades começam com a pintura que pode ser feita com extrato de jenipapo ou urucum. Para Noemi, a pintura, além de embelezar o corpo, também serve como uma espécie de purificação do corpo, algo que ajuda a proteger e/ou curar das doenças.

Cantorias e Danças: Todas as atividades realizadas são acompanhadas por cânticos que falam da natureza (bichos, plantas, rios, terra, céu, estrelas etc.). São músicas com refrões que se repetem como um mantra, geralmente entoadas por um ancião ou aciã. Também a dança é uma tradição muito forte entre os Gaviões. Durante todo o perído da festa houve cantoria e dança, tanto durante o dia quanto à noite. Foi impressionante a vitalidade demonstrada pela cantadora Floriza Eva, uma índia com aparentando ter mais de 70 anos que cantou e dançou em quase todos os eventos.

Corrida da Tora: Consiste em formar duas equipes com homens e mulheres, ir na mata, cortar uma árvore em duas toras de mais ou menos 1 metro colocar nos ombros e correr até o centro da aldeia. Ganha a equipe que chegar primeiro. Essa atividade foi a que mais impressionou a nossa equipe. Pois é quase que inacreditável ver aquelas pessoas correndo, em alta velocidade, por mais de quatro quilômetros com uma tora de mais 60 quilos no ombro como se não levassem nada. O senhor Davi, um ancião da aldeia, nos informou que esse ritual, além de ser uma forma de competição, serve para preparar os jovens para trazer uma caça de grande porte ou mesmo um companheiro ferido do mato até a aldeia.

Ornamentação e Desfile do Esteirão: O esteirão é uma espécie de fantasia feita com palha de buriti, onde um índio ou índia entra embaixo e saem desfilando em fila pela aldeia. Leva algum tempo para confeccionar pois exige técnicas de trançar a palha do buriti. Após a confecção, o esteirão precisa ser e ornamentado com penas, tintas e outros adereços. Isso é feito com a participação de toda a comunidade. Depois de pronto realiza-se uma espécie de procissão pela aldeia onde as pessoas seguem os esteirões em volta da entoando cantigas até chegar ao centro, onde encontram-se três jovens indios e uma criança, todos com pinturas que lembram animais.

PROJETO GAVIOES

MODO DE VIDA DO POVO GAVIÃO (PYKOPJÊ)


A marcação do tempo é a seqüência de verão (amcró) e inverno (ta’ti), ou seja, da estação da seca (abril até setembro, aproximadamente) e da estação das chuvas (de outubro a março, aproximadamente). Estas estações regulam os dois períodos cerimoniais da vida social e o conjunto das atividades produtivas dos índios Gaviões. Os ritos do ciclo anual e os ligados à iniciação têm uma época prevista para serem realizados dentro do período anual. Grande parte dos ritos ligados ao ciclo anual se concentra no período da estação das chuvas, enquanto a estação seca é reservada para a realização de um dos ritos ligados à iniciação. As festas (amji kin, literalmente: “alegrar-se”) Pykopjê são relativas ao ciclo anual (festa do milho, da batata-doce, da mudança da estação do ano), à iniciação dos jovens, à regulamentação das relações de parentesco e interpessoais (como a festa do peixe, do papa-mel, das máscaras), as festas relativas à assunção ou à entrega da dignidade de vyty (menino ou menina ritualmente associado aos indivíduos do sexo oposto da aldeia) ou ainda as festas e pequenas cerimônias relativas ao ciclo vital de um indivíduo (como o fim de resguardo do casal pelo nascimento de filhos e ritos de re-introdução de alguém que ficou afastado por muito tempo do convívio na aldeia, por doença ou luto). Nestes dois últimos casos (vyty e ciclo vital), a responsabilidade pelo suprimento de comida e bens a aldeia é da casa de origem do homem ou mulher. Estas festas exigem uma farta distribuição de alimentos, e hoje em dia algumas festas se prolongam em período de “latência” de vários meses até que a aldeia promotora possa providenciar comida e outros itens necessários para sua conclusão. Além da comida, são necessários miçangas e cortes de pano, que são oferecidos para os participantes das outras aldeias. Cada festa é marcada pelo nome de uma tora de corrida específica e por cantos específicos – o que leva à conclusão que sem um “cantador” (incrercatê) que domine os cantos, não se pode realizar determinado ritual. As aldeias que não o possuem superam o problema “contratando” um cantador de outra aldeia do próprio grupo ou de outra aldeia Timbira. As festas marcam assim a solidariedade necessária ao convívio nas aldeias e são momentos em que se enfatizam as regras de comportamento. Os amjkin, além de proporcionarem um momento de alegria e descontração – nestes momentos os jovens têm a oportunidade de conhecer mulheres de fora, assim como é permitido aos homens e mulheres casados experimentar relações sexuais extramatrimoniais –, são fundamentais para a atualização da estrutura sociocultural e para o equilíbrio das relações internas Portanto, as “festas” preenchem o calendário anual das aldeias quase integralmente: sempre, em qualquer período do ano, uma aldeia estará preparando uma festa, executando outra ou aguardando condições para finalizar uma outra.
Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/gaviao-pykopje/529

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